sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Terceira Lição, A Estima


Tive em tempos um marinheiro, praticante vá, que fez algumas viagens comigo, e a quem tentei ministrar alguns conhecimentos de navegação, de balde embora.
O rapaz era serrano, percebia muito de rebanhos, alguma coisa de queijos , muito pouco de vinhos e nada de azimutes e agulhas.
Lá foi ganhando a mania de que queria embarcar, resultado de sonhos nas noites luarengas das serranias de Montemor e das leituras das aventuras ultramarinas do patrício Mendes Pinto.
Um dia, depois de fazer uns bons trinta e dois azimutes a tudo quanto era farol, boia, monte ou gaivota desgarrada, contas e recontas em papel milimétrico e ábacos especiais, refeitas e conferidas as contas, veio à ponte onde eu estava com o meu copo de gin, e disse-me:
--Meu Comandante, meu comandante, porque não podemos navegar nesta zona da carta?
Era onde as linhas se cruzavam nas suas intermináveis contas.
--Oh rapaz, não se pode navegar aí, porque se trata do Mercado do Bolhão, respondi.
Ficou muito zangado o moço de convés e despediu-se de nós, embarcando quase de seguida numa traineira, não a que nos salvava com alguma regularidade, mas numa outra que permanecia sistematicamente atracada na albufeira da barragem do Castelo do Bode, e que se dedicava à pesca do achigã, da carpa e de uma ou outra especie de agua doce que por alí passasse.

4 comentários:

João Manuel Rodrigues disse...

Olha, cá para mim foi desta que o nosso capitão deu a conhecer sua verdadeira identidade.

Confesso que andava curioso.

João

CELTA MORGANA disse...

Capitão:
Escreva-nos mais estórias (relatos) do "BolhãO"

Anónimo disse...

Pois...o mais belo do Mundo...quiça de Aveiro!!!!
A escrita identificou-o Capitão :)

Anónimo disse...

Neste Dia Mundial da Poesia

UM
Capítulo I
Numa estrada infindável e recta ele , ao volante de carro rumava para uma cidade que nunca mais alcançava, houve uma música no rádio e passa por uns quantos choupos à beira da estrada, recta após recta, música após musica. Rumo à cidade...
Pára numa estação de serviço e pergunta se é aquela a estrada para a cidade...
Na estação de serviço, entre o café e o bolo de arroz. Pergunta se a estrada é aquela, mas nem ele sabe bem qual a cidade para onde se dirige , quer saber o caminho e não sabe qual.
À sua volta as pessoas parecem zombies, respondem maquinalmente ..a cidade? É por ali...sempre em frente.
Ao lado na berma está uma camioneta antiga , daquelas com um galgo estilizado na carlinga.
Numa das janelas um rosto fita-o de fugida. Chama-lhe a atenção , o rosto chora, uma lágrima solta-se ...que se passa? Pensa ele. Um rosto um pouco zombie como o dos habitantes daquele fim do mundo.
Será que busca como ele a cidade? E que cidade busca? Onde se encontram ? No fim daquela estrada? E o que estará no fim desta estrada? A cidade? Que raio pensava ele ..hoje estou mesmo Kafkiano..
Espera no entanto que se encontrar a cidade com ela não encontre também o palácio da ilusão do Antero de Quental....

(......) continua
Autores..eles andam por aí