sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Segunda Lição- A Altura de um astro


Como já todos sabemos distinguir e numerar os meridianos terrestres, deixo-vos agora com uma lição de medição da altura de um astro.

Primeiro, e muito importante, escolhe-se um astro. Convém que seja visível a olho nu, ou pelo menos com um bom par de binóculos.
Então, escolhido e identificado o astro, aponta-se o sextante ao dito, tendo o cuidado de ter a parte de baixo do sextante apontada a qualquer sitio, de preferência ao horizonte, mas pode também ser ao varandim de estibordo, às retrancas das velas maiores ou mesmo à chaminé da embarcação, neste caso apenas se a dita for de propulsão mecânica.
Agora, com uma mão no sextante, a outra no cronometro e outra ainda no copo de Gin, espreita-se pela ranhura e grita-se alto e bom som (é da maior importância este clamor, pois dele depende a boa estima da posição e, também importante, a tradição e o saber)
“Sol à barca, cronometro à estimaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa”
Deverá prolongar-se o aaaa do estima até ao limite dos pulmões, ou, se o marinheiro for de parcas saúdes, até onde a leitura da espreitadela der para gritar.
No fim deste grito, deverá o estimador gritar, de forma igualmente convicta, o tradicional “Foraaaaaaa”, prolongando com idêntico critério o aaaaa final do Fora.

Hoje em dia este ritual foi substituído por outro, de não menos impoortância técnica, mas de reduzido valor etnográfico, que consiste basicamente em olhar para o mostrador de um GPS ou de um Plotter.

Ainda me lembro de uma viagem que fiz em que, durante a observação dum astro segundo o ritual da marinha tradicional, perante um foraaaaa mais prolongado, tocamos na traineira que habitualmente nos salvava. Todavia foi o nosso cargueiro que soçobrou, talvez devido a uma má estiva dos garrafões que transportávamos desde o Porto de Leixões até Moçamedes e que, por volta do Cabo Branco, já metade da carga estava esvaziada por uma tripulação sedenta e ignorante, pois bebeu apenas os garrafões de estibordo, desequilibrando o navio de forma irrecuperável.
Felizmente a traineira safou-nos, não sem antes ter de prometer ao mestre metade do resto da nossa carga.