quarta-feira, 15 de junho de 2011

História Tragico Maritima (parte 1)

Ao fim de longos e penosos anos de afastamento, aqui me têm, queridos amigos, numa estória mais, maritima e tragica, só não mais trágica, porque um dos meus personagens, o Mestre Tobias, de traineira, estava por perto e nos safou, embora com custos e algum proveito.

Confiou-me um armador uma belíssima escuna de dois mastros para levar a Valada que, como se sabe, é para lá de Sol Posto, mais ou menos entre Seca e Meca e Vale de Santarém, um tudo nada antes de chegar a Alhandra.
Tinha a minha bela escuna, bem, minha minha não, mas a mim confiada, à volta de 22 metros de calado aéreo, da água ao  mastaréu. Nada que dificultasse a viagem até ao destino que tinham contratado.
A minha tripulação, essa era uma merdaça, uma porra. Contratei um imediato que tinha saído da escola cavilhense, que, como se sabe, a seguir à universidade de coimbra, é das piores escolas do mundo, quiçá mesmo das piores de Portugal.
E essa escolha foi-me fatal.
Imaginem os meus amigos que ao chegar à ponte de Vila Franca perguntei ao meu imediato:
-- Sr Hortas (era o meu imediato) dá para passar debaixo da ponte?
--Sr Comandante Vasco (era eu), claro, pelo método dos elementos finitos e aplicando a equação de Karnot conjugada com  o Teorema de Bolzano Weisstrass (de encaixe de intervalos) temos uma folga de, mais ou menos,  15 metros.
Desconfiei daquele intervalo de (des)confiança, mas com a prosápia do imediato Hortas, avancei a todo o pano, que por acaso não era assim tanto, pela cale arriba e, sem o que o mais ínfimo pressentimento o fizesse sentir, abalroamos a ponte, os mastros cairam à agua, a ponte titubeou e a escuna sossobrou.
Nadamos então até uma ilhota alí ao pé e fomos atacados por uma manada desenfreada de toiros e, não fora o mestre Tobias que por alí passava à pesca dos achegãs na sua trianeira, que nos tirou das águas e das ilhas, hoje estariamos transformados em picadinho, ou mesmo em fricassé.
Para além do protesto que tive de lavrar, custou-me o erro do imediato senhor Hortas uma quarta parte da garrafeira da escuna mais uns rojõesinhos que tinha guardados para a merenda.
Moral da estória, nunca confiem num graduado da escola cavilhense ou da de coimbra, ou, como diz o povo, vale mais um de tarimba que cinco de coimbra.

4 comentários:

João Manuel Rodrigues disse...

Confesso que já sentia saudades deste meu colega Vasco e dos longos serôes da Escola Náutica, desde o truque de La Paloma, com o qual ganhou uma noitada de Lerpa, nunca mais o vi.

João

almagrande disse...

Força Camarada Vasco

Pardal disse...

Abençoado regresso. Para quando a edição de um livro?

Jackie Goulart disse...

Já me aconteceu, isso de encalhar por cima. Sou solidária! :-)