quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Madame Aragão


A maior parte das minhas horas passo-as no Mar, a enfrentar tempestades e ventos furiosos, mas nada se assemelha às tempestades de Madame Aragão, minha afectuosa e irredutível  esposa.
A história que agora conto passou-se numa das minhas muito raras estadias em terra, num passeio pela cidade de Aveiro, não longe do Solar Aragão.
Pois a Madame Aragão apeteceram caranguejos para acompanhar umas cervejinhas, naquela noite quente de Maio.
A cidade estava calma, ainda não tinha chegado a invasão habitual de turistas, e a noite quase abafada naquele fim de Primavera.
Os bares da cidade não tinham caranguejos. Cerveja ainda se arranjava, também era o que faltava não se arranjar, mas caranguejos, não, nem um.
Corremos tudo o que era bar e a Madame Aragão estava, como sempre, inflexível, a cerveja só seria bebida com os necessários caranguejos, vermelhinhos, salgadinhos, a acompanhar.
Finalmente lá conseguimos encontrar um bar que tinha caranguejos. Sentados ao balcão, esperámos que nos servissem os finos e os caranguejosinhos.
Mas, hélás, os caranguejos estavam completamente xôxos, sem nada no interior, era só a casca.
Madame Aragão, com alguma vergonha minha, armou alí, no meio do bar, uma discussão com o empregado, dizendo que não eram caranguejos que se apresentassem, que não tinham mais que a casca, que era um roubo sem precedentes apresentarem caranguejos daquela maneira.
O gerente, sentindo o mal estar naquele sector do balcão, aproximou-se e, inteirando-se do ocorrido, dirigiu-se a Madame Aragão:
--Queira desculpar, sabe que a época balnear ainda não começou, por isso não tem morrido muita gente nas praias e os caranguejos estão à mingua. Se vier cá lá para o mês que vem, é muito possível que já tenha havido alguns afogamentos e aí os caranguejos estarão, por certo, mais cheínhos.
Madame Aragão não achou piada ao gerente e atirou-lhe com a mala, volumosa, á cabeça, dando origem a uma zaragata homérica, que só acabou com a chegada da bófia e com o nosso encaminhamento para a esquadra.
Safou-nos o Mestre Tobias, que passava por acaso por alí perto e, vendo a ramona a passar, como fosse cunhado do sub chefe da esquadra, meteu-lhe uma cunha e conseguimos vir para casa logo de seguida.
Custou-me, no entanto, a sua intervenção, duas caixas de PapaFigos 2011 que tinha reservado para uma doença e que ainda estavam na minha dispensa

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