domingo, 11 de setembro de 2016

O Movimento Termalista



O meu amigo Veiga mantêm um blog, o Ventosga, dedicado a temas náuticos .
O presente estudo não se enquadra na hidro temática, pelo que me solicitou a publicação no meu espaço, o que faço com muito gosto.

O movimento termalista

1-As origens
São remotas as origens do movimento termalista, remontando mesmo ao tempo dos faraós. São conhecidos vestígios de fontanários no antigo Egipto junto às pirâmides, onde os faraós se banhavam em leite de burra temperado com rum e sumo de ananás, numa bebida que ficaria, séculos mais tarde, conhecida por pinha colada.
Esta bebida, óptima no tratamento de joanetes de que os antigos egípcios sofriam muito, não  faria no entanto grande êxito, apesar das suas propriedades curativas, porque naqueles remotos tempos não tinham ainda imaginado juntar-lhe gelo, talvez porque a técnica dos frigoríficos ainda não estivesse muito desenvolvida.

Os romanos herdaram a tradição egípcia, fundando termas por tudo quanto era sitio conhecido naquela época, sobretudo no entanto em Roma, circundada de fontanários por todos os lados. Naquele tempo era fácil chegar às termas porque, apesar dos GPS ainda estarem nos seus primeiros tempos, os termalistas não se perdiam, bastava-lhes tomarem um caminho, qualquer que ela fosse, porque, como se sabe, todos os caminhos vão dar a Roma.
Os romanos sofriam muito de unhas encravadas, derivado das sapatilhas que usavam, as caligae, de técnica sapateira  muito deficiente. As termas mais usadas eram assim aquelas que se adequavam aquele mal dos pés. Foram assim criadas as famosas termas de pizzas e lasanhas, muito frequentadas pela sociedade romana da mais fina estirpe.

2 – Em Portugal
Os portugueses sempre foram grandes entusiastas do movimento termalista, até porque sempre sofreram das mais variadas maleitas, tais como espondilose, queda de cabelo, bicos de papagaio e penariços, tudo doenças facilmente tratadas em qualquer fontanário digno desse nome.
O nosso primeiro rei, Afonso Henriques, fundou e frequentou as termas de São Pedro do Sul, famosas na vitela de Lafões com tinto do Dão, trazendo para a simpática vila beirã toda a corte, cortezãs, éguas e cabras, fundamentais para a saúde sexual dos portugueses e portuguesas de então.
D.José e o seu primeiro ministro também frequentavam várias termas, das quais destacamos as famosas termas de Palmela com o queijo de Azeitão e o Moscatel roxo, fundamentais  para a cura da gota e do reumatismo.

3 -A Actualidade
Ficaram celebres  as visitas do grande António Silva às termas do Cartaxo, estas apropriadas aos tratamentos das enxaquecas e penariços.
Os portugueses agora frequentam mais as termas do Alto Douro que se tem especializado nos últimos tempos e criado fantásticos fontanários.
Eu próprio ainda há pouco fiz umas termas em Chaves onde constatei a excelência do seu presunto, das suas postas de carne e dos seus enchidos. O tratamento faz-se à vontade do doente, sendo apenas necessária a apresentação da prescrição médica, que pode, no entanto, em grande tradição termalista, ser conseguida na altura. O sr Padre Fontes de Vilar de Perdizes, por exemplo, nas termas de Chaves, pode facultar aos seus pacientes, a devida e necessária prescrição dos tratamentos a efectuar.
Também muito conhecidas e frequentadas as termas galegas de Baiona onde se podem encontrar múltiplos e variados fontanários, ricos em Ribeiro, Alvarinho,  polvo à galega e variado de marisco, especialmente indicados para as maleitas dos pés, sobretudo os joanetes.
Mais perto de Aveiro, óptimas para as doenças do forno intimo tais como parasitas nas partes baixas, borbulhas na cara e frigidez feminina, temos as termas da Mealhada, com o seu  tinto bruto e leitão assado.
Infelizmente aqui é obrigatório beber meio copinho de agua ao fim da tarde, bebido no entanto às escondidas e de olhos fechados para custar menos.
Espero desta forma ter contribuído para um maior esclarecimento do que é o movimento termalista e dessa forma tornar as vidas dos meus amigos mais fáceis e mais agradáveis.

2 comentários:

Fernando Fonseca disse...

Apenas um comentário histórico ao autor deste documento, que tão profundamente inbestigou!
As termas de S. Pedro doo Sul eram chamadas, quando D. Afonso Henriques lá foi parar, caldas de lafões, mais propriamente caldas de alafões.
Como o dito senhor precisada de tratar as suas melritas adquiridas na batalha de ourique, foi necessário fazer sacrifícios e daí lhe darem como tratamento bons bifes de vitela. Esse tratamento ainda hoje perdura na região com o nome de vitela de lafões.
Mas não foi essa real personalidade a demandar tão importantes terras! D. Amélia última rainha de Portugal, farta dos tratamentos que seu real esposo termais em Pedras Salgados, cuja água não gostava, também demandou estas terras de Lafões procurando melhoras para o seu estada depressivo. Pelo menos uma temporada balnear se demorou nessa terra, então já chamada de S. Pedro do Sul, apesar de ficar bem a norte!
Aceite o brilhante inbestigador as humildes contribuições.
Fernando Fonseca

Nuno Gonçalves disse...

Deixo também uma indicação quanto às Ruínas Romanas de Tróia. Trata-se de um monumento arqueológico situado na margem esquerda do rio Sado, na face noroeste da península de Troia, em frente a Setúbal.

Neste local existiu um agregado populacional dedicado à pesca e ao fabrico e exportação de conservas de peixe (garum), ativo desde o século I até o século VI dC.
No entanto, além das Oficinas de salga, é ainda hoje possível observar os restos das termas, escavados em 1956 e que ocupam uma área de 450 m2. Incluíam apoditério (vestíbulo), frigidário (tanque de água fria), tepidário (água morna), caldário (água quente), com sistema de aquecimento subterrâneo (hipocausto), além de piscinas diversas e sala de ginástica.
Ainda hoje, mesmo com as termas em estado degradado (parece-me que já não estão em funcionamento), é possível degustar nas suas proximidades diversas qualidades de peixes e marisco, choco frito, arroz de lingueirão, etc... sempre acompanhados por vinhos da região, bem como o famoso Moscatel de Setúbal.
Quando em banhos, há que se ter cuidado com as alforrecas, pois podem provocar dores e comichões (principalmente nas zonas perto das virilhas)...