A
maior parte das minhas horas passo-as no Mar, a enfrentar tempestades e ventos
furiosos, mas nada se assemelha às tempestades de Madame Aragão, minha
afectuosa e irredutível esposa.
A
história que agora conto passou-se numa das minhas muito raras estadias em
terra, num passeio pela cidade de Aveiro, não longe do Solar Aragão.
Pois a
Madame Aragão apeteceram caranguejos para acompanhar umas cervejinhas, naquela noite
quente de Maio.
A
cidade estava calma, ainda não tinha chegado a invasão habitual de turistas, e
a noite quase abafada naquele fim de Primavera.
Os
bares da cidade não tinham caranguejos. Cerveja ainda se arranjava, também era
o que faltava não se arranjar, mas caranguejos, não, nem um.
Corremos
tudo o que era bar e a Madame Aragão estava, como sempre, inflexível, a cerveja
só seria bebida com os necessários caranguejos, vermelhinhos, salgadinhos, a
acompanhar.
Finalmente
lá conseguimos encontrar um bar que tinha caranguejos. Sentados ao balcão,
esperámos que nos servissem os finos e os caranguejosinhos.
Mas,
hélás, os caranguejos estavam completamente xôxos, sem nada no interior, era só
a casca.
Madame
Aragão, com alguma vergonha minha, armou alí, no meio do bar, uma discussão com
o empregado, dizendo que não eram caranguejos que se apresentassem, que não
tinham mais que a casca, que era um roubo sem precedentes apresentarem
caranguejos daquela maneira.
O
gerente, sentindo o mal estar naquele sector do balcão, aproximou-se e,
inteirando-se do ocorrido, dirigiu-se a Madame Aragão:
--Queira
desculpar, sabe que a época balnear ainda não começou, por isso não tem morrido
muita gente nas praias e os caranguejos estão à mingua. Se vier cá lá para o
mês que vem, é muito possível que já tenha havido alguns afogamentos e aí os
caranguejos estarão, por certo, mais cheínhos.
Madame
Aragão não achou piada ao gerente e atirou-lhe com a mala, volumosa, á cabeça,
dando origem a uma zaragata homérica, que só acabou com a chegada da bófia e
com o nosso encaminhamento para a esquadra.
Safou-nos
o Mestre Tobias, que passava por acaso por alí perto e, vendo a ramona a
passar, como fosse cunhado do sub chefe da esquadra, meteu-lhe uma cunha e
conseguimos vir para casa logo de seguida.
Custou-me, no entanto, a
sua intervenção, duas caixas de PapaFigos 2011 que tinha reservado para uma
doença e que ainda estavam na minha dispensa
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