O meu amigo Veiga mantêm um blog, o Ventosga, dedicado a temas náuticos .
O presente estudo não se enquadra na hidro temática, pelo que me solicitou a publicação no meu espaço, o que faço com muito gosto.
O movimento termalista
1-As origens
São
remotas as origens do movimento termalista, remontando mesmo ao tempo dos
faraós. São conhecidos vestígios de fontanários no antigo Egipto junto às
pirâmides, onde os faraós se banhavam em leite de burra temperado com rum e
sumo de ananás, numa bebida que ficaria, séculos mais tarde, conhecida por
pinha colada.
Esta
bebida, óptima no tratamento de joanetes de que os antigos egípcios sofriam
muito, não faria no entanto grande
êxito, apesar das suas propriedades curativas, porque naqueles remotos tempos
não tinham ainda imaginado juntar-lhe gelo, talvez porque a técnica dos
frigoríficos ainda não estivesse muito desenvolvida.
Os
romanos herdaram a tradição egípcia, fundando termas por tudo quanto era sitio
conhecido naquela época, sobretudo no entanto em Roma, circundada de
fontanários por todos os lados. Naquele tempo era fácil chegar às termas
porque, apesar dos GPS ainda estarem nos seus primeiros tempos, os termalistas
não se perdiam, bastava-lhes tomarem um caminho,
qualquer que ela fosse, porque, como se sabe, todos os caminhos vão dar a Roma.
Os
romanos sofriam muito de unhas encravadas, derivado das sapatilhas que usavam,
as caligae, de técnica sapateira muito
deficiente. As termas mais usadas eram assim aquelas que se adequavam aquele mal
dos pés. Foram assim criadas as famosas termas de pizzas e lasanhas, muito
frequentadas pela sociedade romana da mais fina estirpe.
2 – Em
Portugal
Os
portugueses sempre foram grandes entusiastas do movimento termalista, até
porque sempre sofreram das mais variadas maleitas, tais como espondilose, queda
de cabelo, bicos de papagaio e penariços, tudo doenças facilmente tratadas em
qualquer fontanário digno desse nome.
O nosso
primeiro rei, Afonso Henriques, fundou e frequentou as termas de São Pedro do
Sul, famosas na vitela de Lafões com tinto do Dão, trazendo para a simpática
vila beirã toda a corte, cortezãs, éguas e cabras, fundamentais para a saúde
sexual dos portugueses e portuguesas de então.
D.José e
o seu primeiro ministro também frequentavam várias termas, das quais destacamos
as famosas termas de Palmela com o queijo de Azeitão e o Moscatel roxo, fundamentais
para a cura da gota e do reumatismo.
3 -A
Actualidade
Ficaram celebres as visitas do grande António Silva às termas
do Cartaxo, estas apropriadas aos tratamentos das enxaquecas e penariços.
Os
portugueses agora frequentam mais as termas do Alto Douro que se tem
especializado nos últimos tempos e criado fantásticos fontanários.
Eu
próprio ainda há pouco fiz umas termas em Chaves onde constatei a excelência do
seu presunto, das suas postas de carne e dos seus enchidos. O tratamento faz-se
à vontade do doente, sendo apenas necessária a apresentação da prescrição
médica, que pode, no entanto, em grande tradição termalista, ser conseguida na
altura. O sr Padre Fontes de Vilar de Perdizes, por exemplo, nas termas de
Chaves, pode facultar aos seus pacientes, a devida e necessária prescrição dos
tratamentos a efectuar.
Também
muito conhecidas e frequentadas as termas galegas de Baiona onde se podem
encontrar múltiplos e variados fontanários, ricos em Ribeiro, Alvarinho, polvo à galega e variado de marisco,
especialmente indicados para as maleitas dos pés, sobretudo os joanetes.
Mais
perto de Aveiro, óptimas para as doenças do forno intimo tais como parasitas
nas partes baixas, borbulhas na cara e frigidez feminina, temos as termas da
Mealhada, com o seu tinto bruto e leitão
assado.
Infelizmente
aqui é obrigatório beber meio copinho de agua ao fim da tarde, bebido no
entanto às escondidas e de olhos fechados para custar menos.
Espero
desta forma ter contribuído para um maior esclarecimento do que é o movimento
termalista e dessa forma tornar as vidas dos meus amigos mais fáceis e mais agradáveis.
2 comentários:
Apenas um comentário histórico ao autor deste documento, que tão profundamente inbestigou!
As termas de S. Pedro doo Sul eram chamadas, quando D. Afonso Henriques lá foi parar, caldas de lafões, mais propriamente caldas de alafões.
Como o dito senhor precisada de tratar as suas melritas adquiridas na batalha de ourique, foi necessário fazer sacrifícios e daí lhe darem como tratamento bons bifes de vitela. Esse tratamento ainda hoje perdura na região com o nome de vitela de lafões.
Mas não foi essa real personalidade a demandar tão importantes terras! D. Amélia última rainha de Portugal, farta dos tratamentos que seu real esposo termais em Pedras Salgados, cuja água não gostava, também demandou estas terras de Lafões procurando melhoras para o seu estada depressivo. Pelo menos uma temporada balnear se demorou nessa terra, então já chamada de S. Pedro do Sul, apesar de ficar bem a norte!
Aceite o brilhante inbestigador as humildes contribuições.
Fernando Fonseca
Deixo também uma indicação quanto às Ruínas Romanas de Tróia. Trata-se de um monumento arqueológico situado na margem esquerda do rio Sado, na face noroeste da península de Troia, em frente a Setúbal.
Neste local existiu um agregado populacional dedicado à pesca e ao fabrico e exportação de conservas de peixe (garum), ativo desde o século I até o século VI dC.
No entanto, além das Oficinas de salga, é ainda hoje possível observar os restos das termas, escavados em 1956 e que ocupam uma área de 450 m2. Incluíam apoditério (vestíbulo), frigidário (tanque de água fria), tepidário (água morna), caldário (água quente), com sistema de aquecimento subterrâneo (hipocausto), além de piscinas diversas e sala de ginástica.
Ainda hoje, mesmo com as termas em estado degradado (parece-me que já não estão em funcionamento), é possível degustar nas suas proximidades diversas qualidades de peixes e marisco, choco frito, arroz de lingueirão, etc... sempre acompanhados por vinhos da região, bem como o famoso Moscatel de Setúbal.
Quando em banhos, há que se ter cuidado com as alforrecas, pois podem provocar dores e comichões (principalmente nas zonas perto das virilhas)...
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