domingo, 9 de agosto de 2015

Um Espanhol na Sopa




Apesar de estar neste momento a gozar um muito curto período de férias, bem merecidas diga-se, antes de largar para levar uma carga de pezinhos de porco preto para Malaca, onde são muito apreciados, juntamente com unhas de chiuáua, lembrei-me de aqui narrar uma das minhas desventuras num dos muitos portos deste mundo afora.
Estava eu a começar a jantar, juntamente com o meu imediato, num bar mal afamado da Gafanha da Nazaré, em Portugal, paredes meias com uma não menos afamada casa de diversão nocturna, o Moinho Velho, sentado numa mesa a comer uma sopinha quentinha que muito bem me estava a saber.
O bar em causa era uma espécie de um longo corredor, com um balcão a todo o comprimento, onde outros marinheiros dos sete mares malhavam os seus copos nas paragens naquele porto.
Mesmo ao meu lado, a beberem umas cervejas, estavam três espanhóis, já um tanto entornados, diria eu.
Ao levantarem-se, desequilibraram se pelo efeito dos alcoóis penso e, sem mais, caíram me na sopa.
Já é galo, pensei, a sopa até me estava a saber tão bem, a toda a gente caiem moscas na sopa, só a mim me caiem espanhóis, phoenix.
O meu imediato que, desde que foi despeitado por uma bailarina espanhola num bar de Singapura, tem uma malapata contra castelhanos e afins, levantou a mão e assapou uma galheta, mais sonora que efectiva, no espanhol que ainda se limpava do macarrão e dos feijões da sopa onde caíra.
O acto expontâneo e irreflectido do meu imediato gerou uma sessão de bofeteada ibérica sem precedentes naquelas paragens.
Bem, sem precedentes sem precedentes não, estou a lembrar me de outra, com marinheiros ucranianos em Southampton que meteu até os british grenadiers para separar as partes em contenda.
Esta foi, no entanto, das grandes e acabou por meter a Guarda Republicana que levou tudo preso para a charola, uma chatice.
Não fora o sargento da Guarda ser primo em segundo grau da senhora que faz a limpeza da casa do Mestre Tobias da traineira, e ainda hoje estaria a apodrecer nos calabouços da GNR.
O aborrecido é que o favor me custou duas arrobas de pezinhos de porco preto que tive de retirar, sem ninguém ver, da carga que estavamos a fazer.